Julho, 2020

A Importância da Alimentação Saudável na Infância

As repercussões de uma alimentação inadequada na infância já são bem conhecidas e promovem a crescente preocupação pela compreensão da formação dos hábitos alimentares, enfatizando a importância de práticas alimentares saudáveis nos primeiros anos de vida.

No decorrer dos anos, o tema “Alimentação Infantil” tem sido assunto de grande relevância para diversos profissionais, despertando o interesse de distintas áreas do conhecimento, uma vez que este assunto inclui uma gama de aspectos, além dos nutricionais. Há um notório conhecimento, que se apresenta cada vez mais evidente, das repercussões adjacentes e de longo prazo de uma alimentação inadequada, o que favorece a busca constante por se compreender a formação do hábito alimentar, apontando uma atenção especial e contínua para a importância das práticas alimentares saudáveis nos primeiros anos de vida.

A alimentação saudável na infância promove a saúde, o crescimento, o desenvolvimento e previne efeitos nocivos e doenças de curto e longo prazo, como anemia, obesidade, cárie, doenças cardíacas, câncer, diabetes, hipertensão, osteoporose, dentre outras.

No Brasil, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição reposicionou a questão alimentar e nutricional na agenda das políticas públicas do setor saúde,1 enfatizando a importância de práticas alimentares e estilos de vida saudáveis como um componente importante para a promoção da saúde já nos primeiros anos de vida.2

Ao contrário do que se preconiza em muitos aspectos, a alimentação saudável não é sinônimo de custo alto ou de difícil acesso, visto que se engloba, nesse contexto, a maioria dos alimentos in natura, como feijão, arroz, milho, trigo, frutas, legumes e verduras, sementes e castanhas, obviamente, consumidos em porções adequadas e equilibradas, diariamente, garantindo os nutrientes essenciais ao organismo.

Mesmo assim, muitas famílias no Brasil possuem dificuldade de acesso a uma alimentação apropriada e saudável, inclusive, por limitações financeiras. Em contrapartida, um alto poder aquisitivo não proporciona, necessariamente, uma alimentação adequada ou saudável, uma vez que tais escolhas são determinadas, dentre outros pontos, pelas preferências individuais, pela disponibilidade dos alimentos no mercado e pela influência propagandística.

Os hábitos alimentares são influenciados por inúmeros fatores de ordem genética, socioeconômica, cultural, étnica, religiosa, entre outros. Com início já no período gestacional, por meio do contato do feto com o líquido amniótico,3 a formação dos hábitos alimentares continua durante a infância, sobretudo nos primeiros 2-3 anos de vida, e irá sofrer influência de diferentes fatores ao longo da vida: família, amigos, escola, mídia.4, 5

Para que se contemple um padrão alimentar saudável, deve-se considerar alguns atributos relevantes, como a acessibilidade física e financeira, o sabor, a variedade, a cor, a harmonia e a segurança sanitária em relação aos alimentos.

A alimentação saudável precisa, então, ser saborosa, colorida (quanto mais colorida, mais rica em nutrientes e minerais), diversificada (as crianças devem ser expostas a diferentes alimentos, inclusive, repetidamente, até sua aceitação, visto que a diversidade do cardápio proporciona o consumo de diferentes nutrientes concomitantes) e harmônica, garantido um equilíbrio entre a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos, a fim de se alcançar uma nutrição adequada. Vale ressaltar, neste contexto, que os alimentos devem ser seguros para o consumo, sem apresentar contaminantes de natureza biológica, física ou química, além de outras nocividades ao consumidor.

A partir dos dois anos de idade, a alimentação da criança é muito semelhante à da família. À medida que a criança cresce, ela define suas preferências alimentares; daí a importância de se estimular desde o início uma alimentação variada, adequada e que reflita a cultura alimentar regional.6,7,8 Na fase pré-escolar (de 2 a 6 anos) e escolar (de 7 a 10 anos), a criança precisa participar ativamente da própria alimentação, uma vez que está formando seus hábitos alimentares, precisando ser estimulada positivamente nesse sentido, principalmente, na fase de socialização mais intensa, onde há a promoção da independência da família. Assim, deve-se assegurar a responsabilidade da criança como atuante fundamental na seleção e consumo de alimentos saudáveis.

Como auxiliar deste processo orientativo e educativo, a fim de se constituir uma alimentação moderada, variada e equilibrada, torna-se eficiente a utilização da pirâmide alimentar, um instrumento educativo que pode ser facilmente utilizado pela população.

A pirâmide alimentar é um instrumento didático que tem como finalidade ilustrar de forma simples e objetiva quais grupos de alimentos devem ser ingeridos com maior prioridade, além da quantidade aproximada de cada um deles. Dessa forma, ela permite que a população se oriente e tenha autonomia para melhorar seus hábitos alimentares. Por isso, tal instrumento deve ser levado ao conhecimento da população brasileira através de ações educativas, dinâmicas escolares, ações sociais promovidas principalmente por profissionais da área da saúde etc., possibilitando melhoria da qualidade de vida e saúde dos indivíduos.9

De um modo geral, os grupos de alimentos estão distribuídos da mesma maneira em qualquer pirâmide, em qualquer faixa etária, assim como seus princípios de moderação, variedade e equilíbrio são mantidos. Contudo, uma pirâmide alimentar, para crianças, é mais larga, e por ser a infância um período de intenso desenvolvimento, com maior necessidade energética, o número de porções também sofrerá variação. Tais alimentos previnem a desnutrição, quando ingeridos conforme recomendação por idade. E nessa fase, o ferro e as proteínas tornam-se os maiores aliados para se evitar o desenvolvimento de anemias.

A família tem papel decisivo na forma como a criança irá aprender a se alimentar, sobretudo pelas estratégias que os pais/cuidadores usam para estimular a alimentação. O reconhecimento dos sinais de fome e saciedade e a compreensão acerca da capacidade de autocontrole da criança pequena em relação à ingestão alimentar contribuem para a formação de um comportamento alimentar adequado.10, 11

Indubitavelmente, a responsabilidade dos adultos apresenta-se importantíssima, no sentido de orientar, e principalmente, de servir de exemplo para as crianças nesta fase, visto que elas costumam espelhar seus hábitos e costumes com grande frequência


  1. Recine E, Vasconcellos AB. Políticas nacionais e o cam - po da Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva: ce - nário atual. Cien Saude Colet 2011; 16(1):73-79.
  2. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Departamento de Atenção Básica/Secretaria de Atenção à Saúde. Proto - colos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN na assistência à saúde. Brasília: MS; 2008.
  3. Beauchamp GK, Mennella JA. Flavor perception in human infants: development and functional significance. Digestion. 2011;83:1-6.
  4. Hart CN, Raynor HA, Jelalian E, Drotar D. The association of maternal food intake and infants’ and toddlers’ food intake. Child Care Health Dev. 2010;36:396-403.
  5. Thompson AL, Bentley ME. The critical period of infant feeding for the development of early disparities in obesity. Soc Sci Med. 2013;97:288-96.
  6. Savage JS, Fisher JO, Birch LL. Parental influence on eating behavior: conception to adolescence. J Law Med Ethics. 2007;35:22-34.
  7. Dwyer JT, Butte NF, Deming DM, Siega-Riz AM, Rayde KC. Feeding Infants and Toddlers Study 2008: progress, continuing concerns, and implications. J Am Diet Assoc. 2010;10:S60-7.
  8. Fox MK, Pac S, Devaney B, Jankowski L. Feeding Infants and Toddlers Study: what foods are infants and toddlers eating? J Am Diet Assoc. 2004;104:S22-30.
  9. YOKOTA, Renata Tiene de Carvalho et al. Projeto" a escola promovendo hábitos alimentares saudáveis": comparação de duas estratégias de educação nutricional no Distrito Federal, Brasil. 2010.
  10. Thompson AL, Bentley ME. The critical period of infant feeding for the development of early disparities in obesity. Soc Sci Med. 2013;97:288-96.
  11. Sherry B, Mcdivitt J, Birch LL, Cook FH, Sanders S, Prish JL, et al. Attitudes, practices, and concerns about child feeding and child weight status among socioeconomically diverse white, Hispanic, and African-American mothers. J Am Diet Assoc. 2004;104:215-21.

Daniele Izidoro Araujo Freitas
Nutricionista em Formação